sexta-feira, 16 de julho de 2010

E à luz rumou Aster...


É com saudades que anunciamos a passagem aos planos superiores do Amigo e Irmão Euclydes Lacerda de Almeida (Frater Aster O.T.O. / Frater Thor A.'. A.'.), ocorrida em 24 p.p.
Euclydes foi membro do Soberano Santuário da Gnose (IXº) da Ordo Templi Orientis, Grão-Mestre da Ordem dos Cavaleiros de Thelema, fundador da Sociedade Novo Aeon e autor de inúmeras obras - publicadas por meio de edições privadas - sobre temas ocultistas (confira-se a lista de algumas delas, disponíveis para consulta virtual, em http://www.ocultura.org.br/index.php/Euclydes_Lacerda_de_Almeida).
Foi, também. instrutor de destacados ocultistas brasileiros na senda da A.'.A.'. - inclusive, nos anos 70, de um, então, iniciante chamado... Paulo Coelho!
Iniciado na Fraternitas Rosicruciana Antiqua em Santos Dumont, Minas Gerais, em novembro de 1975, sob a espada do Mestre Paulo de Paula, Euclydes costumava participar, quase sem ser notado, das Missas Gnósticas realizadas aos domingos na Aula Lucis Central, na Tijuca.
Avesso à McDonaldização do Oculto, foi cercado, até o fim de sua vida, de poucos e fiéis discípulos e amigos, assim como de uma família amorosa, grata e dedicada.
Uma nota curiosa: há tempos, eu vinha procurando uma importantíssima carta que me foi escrita, em 1997, pelo Comendador Coaracyporã, da Fraternitas Rosicruciana Antiqua. Há dois dias, havia escrito a um irmão, na esperança que tal carta estivesse com ele... em vão!
Ontem, visitei Teka, a viúva de Euclydes, que me acompanhou ao apartamento em que o Irmão mantinha sua biblioteca, para definirmos como catalogaremos seu imenso arquivo. Ao chegarmos lá, a luz de um dos quartos estava acesa, mas não demos importância.
Percorremos o apartamento apenas identificando com o olhar o modo como o vastíssimo material, fruto de uma pesquisa de mais de 50 anos, estava disposto, até que chegamos àquele quarto. Ali, pela primeira vez, Teka resolveu abrir uma das dezenas de pastas que havia no local. Ela foleava os documentos, quando identifiquei alguns que me eram conhecidos, entre os quais estava... a carta que tanto procurava! Só então que me recordei que havia deixado aquela missiva com Euclydes há mais de 10 anos, pois, ali, o Comendador Coaracyporã falava, entre diversos outros assuntos, de um ex-Irmão da Fra. R.C. Antiqua, Marcelo Ramos Motta (Parzival XIº). Esse Irmão fora o Supervisor-Geral da Ordo Templi Orientis e o primeiro Instrutor do próprio Euclydes, tanto na O.T.O., quanto na A.'.A.'.
E foi assim que o Mestre, desde os planos invisíveis, fez retornar às minhas mãos o documento que eu tanto procurava...

E a luz se soma à Luz, a Rosa desabrocha e deixa a Cruz, o amigo segue viagem, o Mestre se torna invisível... Obrigado pela mão estendida no caminho de volta, pelas provas e lições, pela simplicidade com que apresentava todo o fantástico conteúdo de conhecimento e sabedoria de um autêntico Iniciado, de alguém que esteve aqui e Lá ao mesmo tempo e, mesmo no turbilhão dessas situações aparentemente contraditórias, nos lembrava de sermos quem somos e cumprirmos os desígnios de nossa Vontade.

Vale, Amicus! Vale, Frater! Vale, Magister!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Sobre barreiras, graus e invisibilidade


O que une, e o que separa?
Barreiras separam, e isto é dizer o óbvio.
Ocorre que o óbvio, muitas vezes, não é percebido. Tome-se por exemplo as próprias organizações rosicrucianas. Quantos, tendo sido admitidos ao círculo interno por meio de uma cerimônia, realmente foram iniciados? E isto eu lhes digo: aqueles que batem no peito presunçosamente, dizendo-se membros desse ou daquele grau, ainda não sabem o que é a iniciação. Isto porque graus são barreiras e, portanto, implicam separação, enquanto o verdadeiro iniciado é sempre o promotor da (re)conciliação.
Graus nada representam desde o ponto de vista estritamente iniciático. N-a-d-a. Não são garantia de conhecimento, nem de sabedoria, nem de autodomínio, nem de autoconhecimento, nem de iluminação, nada de nada.
Graus revelam que o seu detentor se encontra há um certo tempo em uma determinada situação dentro de uma dada organização e, no mais das vezes, que não representa uma ameaça ao grupo dominante. De certo, nada mais.
Mesmo nas organizações em que os graus são conquistados por meio da quantidade de instruções recebidas, da presença em reuniões ou da frequência ritualística, não há garantia alguma de que um detentor do último grau tenha mais conhecimento ou vivência do que um recém-chegado. Afinal, há chaves que só são transmitidas - até nestes tempos cibernéticos, em que os limites entre o público e o privado são cada vez mais tênues - de boca a ouvido; e outras que só são conquistadas por meio da verdadeira dedicação aos estudos e à prática.
Neste sentido, nunca é demais repetir: a iniciação não ocorre em um mero ritual de passagem. É preciso muito mais do que isto: necessita-se de uma imersão nos reinos internos, sem a qual qualquer contato com os mundos invisíveis torna-se desprovido de significado espiritual, perdendo-se os passos em uma antecâmara que o aspirante, iludido, acredita tratar-se do Salão d'O Templo.
Quisera poder discorrer sobre tal imersão, sobre a dimensão do significado desse termo, mas somente me é autorizado esperar que o leitor entenda que a literalidade e a metáfora nem sempre se excluem. Para além de a mente ser livre para visitar cada abstrato altar que há no próprio ser humano e, ali, tocar o intocável, é certo que existem, entre o etéreo e o concreto, fluidos que servem de ponte entre os dois mundos, verdadeiros substratos alquímicos. Ah! Paro por aqui, pois o Silêncio me é imposto...
Leitor: não há graus ou barreiras que separem os membros da Confraria Rosa+Cruz. Entre nossos Irmãos, há membros de diferentes organizações rosicrucianas, e há quem jamais tenha ingressado em qualquer instituição congênere. O que nos une está além dos olhos e do intelecto, e nisto reside o segredo de nossa invisibilidade.